Backlog #5 - O grande show da bolha dev

Hoje começa o primeiro Backlog de 2025, e vamos começar bem. Esse vai ser o mais sincero que eu já escrevi. Vou falar sobre vários tópicos que sempre me perguntam e, aviso: não vai ter filtro, tudo aqui vai ser autêntico.

A motivação veio ontem à noite. Esse Backlog seria sobre outra coisa (relacionada a história, que fica pra próxima), mas antes de dormir, cometi o maior erro: abri o LinkedIn. O que vi lá me deixou com um misto de sentimentos que preciso expor aqui, já que muita gente me pergunta sobre isso.

Pra não cortar o assunto no meio, vamos pro aviso dos nossos amigos da Remessa ❤️. E lembrem-se: Tudo aqui é minha opinião.


Pausa para um aviso!

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Um pouco de contexto

Quem me acompanha sabe que uma das coisas que mais odeio é ver posts de gente se passando por coach, vendendo o que não pratica e criando conteúdo raso só por likes e engajamento (esse principalmente). De 2015 a 2020, o cenário era mais calmo, mas essas figuras sempre existiram. Eu divido essa galera em três categorias:

  • O Guru Empreendedor: Acha que tem todas as respostas e promete “revolucionar a humanidade”, mas nunca entrega nada além de variações coloridas de produtos que já existem.
  • O Dev de Palco: Fala como criar a aplicação perfeita baseado na sua experiência de dois anos de carreira numa startup de garagem com 10 clientes.
  • O Influencer Papagaio: Ensina entre uma dancinha e outra que parseInt é a “melhor solução do JavaScript” (não é) sem checar fontes, provando que o básico mal-feito viraliza mais que conteúdo útil.

Todos fazem a mesma coisa, mas de formas diferentes. O coach te vende que “foguete não tem ré”, criando “seu produto” a qualquer custo. O dev de palco exagera conquistas para se mostrar.

Muito desse "glamour" do mundo dev vem da galera do "minha rotina trabalhando na <FAANG aqui>", vendendo um sonho que não é real.

O ciclo é simples: cria-se um “hype” em torno de uma solução que promete mudar o mundo, mas no final, o produto ou não existe, ou existe e está pela metade ou é uma variação de algo já existente, com uma carinha nova. É o “faça o que eu digo, mas não olhe muito de perto o que eu faço”. Talvez o exemplo mais bem-sucedido dessa prática tenha sido Devin AI, um caso emblemático (que fez um comeback recentemente, aparentemente redimido) de como vender fumaça.

Todo mundo quer criar conteúdo, mas ninguém quer fazer o trabalho de garantir que o conteúdo tenha valor

Tendo isso em mente eu resolvi trazer a tona o que eu penso sobre criação de conteúdo atualmente, sobre coaches tech e responder umas perguntas que a galera faz pra mim.

Um culto ao vazio

Dev de palco não é o problema. Eles podem se vender mais caro do que valem, mas no final só afetam a si mesmos. Muitos acabam sumindo ou, eventualmente, estudam e fazem o que sempre prometeram.

O problema real é uma fatia da galera que se chama de influenciador tech. Apesar de eu não gostar do termo "influenciador", admito que me tornei um sem perceber – só para agora observar de dentro e me perguntar onde isso vai parar. A maioria dos “influencers” hoje tem como ideia de conteúdo algo que é para engajamento apenas, não para ensinar. Em vez de trazer debates profundos ou ideias úteis, o foco está em dancinhas, frases feitas e narcisismo.

Claro, não são todas as pessoas, existem excelentes influenciadores que conseguem ensinar algo bom e engajar a galera, mas são raros.

Isso tudo gera uma bolha de entretenimento, porque é engraçadinho, é engajante, mas quem se destaca não é quem tem algo a ensinar, mas quem sabe entreter ou chamar atenção.

E criar conteúdo é um trabalho difícil, você precisa escolher: ou entretém, ou ensina. Não dá pra fazer os dois realmente bem ao mesmo tempo.

Isso seria inofensivo se não tivesse consequências práticas. O público consome esses conteúdos rasos, toma como verdade absoluta e replica sem pensar. Já entrevistei pessoas que descobriram durante a entrevista que React não era “O JavaScript”. Isso chega ao nível de achar que “Facebook é a internet”.

Já perdi a conta de quantas vezes vi posts que precisam ser corrigidos em várias redes, desde comparações absurdas entre PHP e Node ou notícias incorretas sobre propostas de JavaScript que sequer foram implementadas. O pior não é o erro em si – afinal, a gente está aqui pra aprender –, mas a falta de compromisso em checar se as fontes são reais antes de publicar uma informação. E, do outro lado, a falta de senso crítico para saber que aquilo não fazia sentido...

E se tem algo que me deixa puto, é alguém ensinando algo errado como se fosse verdade.

Mas por que tão raso?

O problema não para nos influenciadores, eles são a consequência de um mercado que prefere entrega a qualquer custo do que parar e pensar no que você está, de fato, fazendo. Isso gera uma indústria que quer tudo rápido, simples e prático.

Todo mundo quer criar conteúdo, mas ninguém quer fazer o trabalho de garantir que o conteúdo tenha valor. E, quanto mais gente fica rica e famosa com conteúdo superficial, mais conteúdo raso é feito, gerando uma bola de neve até chegar em pérolas como essa aqui:

React: 761 issues, VSCode: 5000+ issues [...]
Suas ferramentas não são perfeitas, ainda sim elas dão a milhões de pessoas o que elas precisam.
Pare de se preocupar com bugs pequenos e problemas de interface. Foque na sua funcionalidade principal.

Onde claramente a mensagem é: não importa construir algo bom, importa entregar qualquer coisa. Essa mentalidade reflete no mercado atual.

A galera que está se formando agora, ou está nos primeiros anos de carreira simplesmente não tem vontade de ir a fundo em quase nada.

Como entrevistador, vi isso de perto: projetos simples, conhecimento raso, devs que sabiam codar, mas não entendiam como o código rodava.

“Como funciona?”

Não importa.

O meu futuro nisso tudo

Isso me fez questionar o futuro do que eu crio aqui. Não é segredo que eu não gosto de redes sociais, sou pouco ativo nelas e não sei criar conteúdo “engajante”. Meus poucos posts que geram barulho são exceções, mas também não quero fazer parte do culto ao conteúdo raso. Quero oferecer algo de valor, profundo, que ensine – exatamente o motivo pelo qual criei essa newsletter.

Todo conteúdo que faço e farei seguirá esse princípio: algo pautado, bem fundamentado, do jeito que gosto de aprender e ensinar. Quero que cada artigo/newsletter/video seja algo que você veja e pense: “Isso valeu meu tempo”. Espero que, aos poucos, mais pessoas se juntem a esse caminho e rompam com o show do conteúdo vazio, trazendo discussões e aprendizado real.

Muita gente deixou de me seguir nos últimos meses, inclusive aqui na newsletter. Por quê? Não sei. Talvez meu conteúdo não seja “sexy” ou chamativo o suficiente para o algoritmo, talvez eu seja direto demais (inclusive, você pode me ajudar respondendo aqui). Mas o ponto é que não pretendo mudar só para agradar. O motivo principal de escrever isso tudo sempre foi compartilhar ideias e discutir coisas que realmente importam – e quem fica, entende esse propósito.

Criar conteúdo de verdade dá trabalho. Exige tempo (muito tempo), pesquisa e dedicação – bem diferente dos posts rápidos tipo “cinco segredos para ser um dev ninja”. Quero algo que tenha impacto e ensine de verdade. E, mesmo que não alcance tanta gente, já valeu a pena, porque aprendi no processo.

Então, se você está aqui, lendo até esse ponto, é porque valoriza o mesmo. Obrigado. É para você que eu continuo escrevendo.

Perguntas que me fazem e respostas que ninguém quer ouvir

Agora é o momento que eu respondo um monte de perguntas que muita gente me manda ao longo do tempo mas eu acabei nunca respondendo porque eu acabei esquecendo ou acabei não querendo responder com receio de algum tipo de cancelamento, então ai vai:

Por que você não posta mais em redes sociais?

Eu detesto ter que ficar pensando em algo novo todo dia, não é sempre que você tem inspiração pra criar algo, não é sempre que você tem vontade de criar algo. Mas para a rede social é sempre a frequência que importa, e eu não sou constante, portanto, redes sociais também não gostam de mim. Além de que eu produzo o conteúdo sozinho, e eu também trabalho, então não tem muito tempo pra criar algo de qualidade, e se não tiver qualidade eu prefiro não criar.

Qual é a sua opinião sobre solopreneurs e essa galera coach de sucesso?

Muito dela está aqui na newsletter, mas no geral, sempre que eu vejo um "founder" postando algo fazendo um boost sobre a sua própria empresa ou sempre que eu vejo "disruptivo", "mudança de mindset" ou variações disso, eu paro de seguir, e as vezes até bloqueio a pessoa. Até agora tiveram poucas exceções de pessoas que eu realmente quis seguir que são empreendedores, uma delas é o Zeno Rocha, porque acredito que ele é um dos poucos que realmente entregam valor real nos produtos, desde os primórdios, e o conteúdo dele não é só inspiracional, mas educativo na maioria das vezes.

IA vai roubar meu emprego?

Se você acha que IA vai roubar seu emprego nos próximos 10 anos, então provavelmente ela vai. É o que eu sempre falo, se você se comporta como uma IA, você vai ser tratado como uma IA. Hoje qualquer coisa que contenha "IA" no nome já me dá um certo asco, eu não uso mais copilot e evito ao máximo qualquer tipo de código escrito completamente por IA. São ótimas ferramentas para revisão, rubber ducking, mas não para pensar por você. SEMPRE CHEQUE SUAS FONTES

Você pretende fazer o que com seu conteúdo?

Sinceramente, eu pensei em parar múltiplas vezes. Mas acho que não é justo comigo, porque eu gosto muito de escrever e ensinar (e, mais ainda, aprender), então eu também não quero parar. Provavelmente vou dar uma reduzida agora com projetos como a Formação TS em foco para poder terminar ela de vez e focar em construir coisas, mostrando como eu estou fazendo no processo, quem sabe em lives. Por mais que eu não goste da cultura do solopreneur, eu admiro muito indie hackers, porque eles passam por muita coisa.

Enfim, não sei, me manda uma sugestão no meu email ou nas redes se tiver alguma ideia!

Você vê futuro no conteúdo atual?

Sim, a galera que está por ai hoje tem gente muito boa. Muitos que sabem como lidar com as redes sociais, que nasceram nelas, mas ao mesmo tempo também são muito inteligentes e sabem ensinar, o melhor de todos os mundos. Porém, a quantidade de pessoas que vai para o lado fácil da coisa puxa tudo pra baixo. Se a gente continuar dando palco pra galera que faz conteúdos rasos, a tendência é que mais conteúdo raso apareça.

Você acha que devs de hoje tem conserto?

Eu não acho que a galera esta quebrada. Eu acho que uma pandemia e uma série de problemas ajudou a bolha atual a ser o que ela é. Mas, enquanto conteúdo raso e falta de conhecimento forem norma, eu não tenho que achar nada, porque o mercado vai se encarregar de não deixar a galera que não se importa progredir.

Muito obrigado, não deixa de comentar se gostou nas minhas redes e te vejo no próximo backlog!