Backlog #2 - Trabalhar duro não vai te levar tão longe

E se eu te falasse que sucesso é pura sorte? Que o mês que você nasceu pode ter feito a diferença entre você ser super rico ou não? Nessa edição, vamos discutir sobre por que o sucesso é pura sorte, ou quase...

Há alguns meses eu terminei de ler um dos livros mais interessantes que eu já li, Outliers (ou Fora de Série) por Malcolm Gladwell, que também é autor de outros livros como "Blink" e "O Ponto da Virada". No geral, ele sempre toca em assuntos sobre carreira e ideias que a gente não costuma pensar tanto no dia-a-dia. Nesse em específico ele foca em uma questão:

Por que alguns tem sucesso, e outros não?

O Mito do Talento

Desde pequeno eu ouvi que "quem trabalha duro e se esforça consegue tudo", que "determinação é a chave do sucesso", ou até mesmo que eu tinha "talento" para alguma coisa. Mas a realidade é que isso tudo não passa de uma história para fazer a gente se sentir bem com a gente mesmo. Ou será que não?

A realidade é que talento como um todo é algo muito superestimado. Por exemplo, a gente tende a louvar pessoas que tem um talento incrível, um jogador de futebol, um guitarrista, um artista plástico. Mas, enquanto o talento é sim importante para que essas pessoas chegassem onde chegaram, ele não é tudo. Elas provavelmente não teriam tanto sucesso quanto elas tiveram tendo talento, mas continuariam tendo sucesso da mesma forma sem ele. Eu chamo isso de "o mito do talento".

Talento como um todo é algo muito superestimado.

Outliers é o livro que popularizou o conceito de que você precisa aplicar 10.000 horas de prática para ser um mestre no que seja que você está fazendo. E isso é totalmente verdade, para que você seja realmente bom em algo, você precisa de muita prática deliberada. E isso também é uma das métricas para o sucesso.

Ou você acha que os Beatles começaram e já foram um sucesso logo de cara?

A história dos Beatles, contada no livro, diz que, durante os primeiros anos de banda, eles se encontraram com um empresário que conseguiu diversos shows para eles em Hamburgo. A casa de shows que eles tocavam era um local que precisava de uma atração que ficasse tocando durante a madrugada inteira, como iniciantes eles viram a oportunidade perfeita de não só construir um repertório fazendo covers, mas também testar músicas próprias, além de ganhar experiência de palco e condicionamento para longos shows.

Quando os Beatles estouraram, eles já tinham feito mais de 1200 shows somente naquele bar em Hamburgo, quase 9600 horas tocando sem parar as mais diversas músicas para os mais diversos públicos. Isso os colocou em contato com muitas pessoas que já conheciam a banda, além de outros administradores e empresários que tinham outros contatos para outros shows.

A história dos Beatles mostra que talento sozinho não basta. Mesmo sendo músicos excepcionais, sem os 1200 shows em Hamburgo, eles não teriam a experiência ou os contatos necessários para alcançar o sucesso. Você precisa sim colocar um grande esforço, mas muito depende do quanto você está preparado quando a hora chegar.

Talento importa, mas o contexto é essencial

O talento é uma mistura de vários fatores, muitos deles ligados a fatores externos que você não tem como controlar, como:

  • Contexto histórico
  • Herança cultural
  • Oportunidades

Ou até mesmo coisas que parecem sorte aleatória. Talento e trabalho duro com certeza importam, mas são amplificados quando você atende a outras condições, e essa não é a única história que eu tenho pra te contar. Como uma das pessoas mais ricas do mundo aproveitou suas oportunidades para se tornar quem se tornou.

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A sorte no sucesso

Você está lendo essa newsletter agora, provavelmente gosta de computadores (ou você não iria me conhecer), então você deve conhecer Bill Gates. O Co-Fundador da Microsoft, a maior empresa de softwares do mundo (e meu ex-chefe), já foi o homem mais rico do mundo e continua nessa lista até hoje. E se eu te disser que tudo isso foi sorte? Claro, o talento estava lá, mas a sorte foi o principal fator para o seu sucesso. O livro também conta a sua história.

Fatores externos moldam a sua vida, mesmo que você não tenha nenhum poder sobre eles

O ano em que você nasceu pode determinar muito sobre sua trajetória. Eu, por exemplo, nasci em 1995. Se tivesse nascido 10 anos mais tarde, teria perdido a explosão dos computadores e da internet. Dez anos mais cedo, talvez nunca tivesse entrado na área de tecnologia. Meu momento me deu vantagens específicas, como aprender a trabalhar bem sem internet e lidar com coisas analógicas. E o mesmo aconteceu com o tio Bill.

Bill Gates nasceu em 1955, na época perfeita para aproveitar a revolução dos computadores pessoais dos anos 70. Se tivesse nascido 10 anos antes, seria velho demais. Dez anos depois, novo demais. Gates também teve sorte de estudar na Lakeside School, uma escola particular de elite que, em 1968, adquiriu um terminal de computador. Lá, ele começou a programar jovem e já acumulando suas 10.000 horas de prática

Escola Lakeside em Washington

Além disso, outra coincidência improvável é que, se você lembrar da última edição, na época os computadores usavam tempo compartilhado, ou seja, eles eram conectados a um mainframe próximo.

Por morar próximo à Universidade de Washington, que tinha um mainframe e terminais disponíveis para uso noturno. Ele passava madrugadas programando, graças a pais compreensivos que o deixavam ficar fora até tarde. O esforço contou, mas o contexto foi essencial.

Se ele tivesse a oportunidade e não tivesse programado durante madrugadas, nada teria acontecido, foi a visão de entender que essa era uma oportunidade e agarrar essa oportunidade que fez a diferença.

Não é sobre esforço individual, é sobre o contexto desse esforço

Para coroar, aos 16 anos, ele ainda teve a oportunidade de trabalhar na TRW, ao lado de engenheiros experientes, em um projeto de software. Essa experiência o colocou anos à frente da maioria dos estudantes de sua geração. Tudo isso culminou na criação do interpretador BASIC para o Altair 8800, junto com Paul Allen. Se tivesse nascido 5 ou 10 anos depois, nada disso teria acontecido.

O ponto não é diminuir o esforço ou talento dele, mas destacar que ele soube aproveitar um contexto de oportunidades únicas.

Eu não estou dizendo que esforço é inútil, ou que talento não conta, mas dizendo que talento e esforço sem aproveitar a oportunidades não vale nada

Uma outra história parecida é a de Bill Joy, criador do Vi (hoje Vim) e co-fundador da Sun Microsystems, que eu vou contar com mais detalhes em uma edição futura do Backlog. Ele também foi extremamente talentoso, mas muito graças ao local onde ele estava e ao momento que ele viveu. Mas, e se o talento realmente não importasse?

Por que o arroz importa?

Até agora, vimos como o talento foi importante, mas não decisivo, para algumas histórias de sucesso. Porém, existem casos em que o talento realmente não tem nada a ver com o sucesso ou habilidades de alguém.

Por exemplo, há um estereótipo de que pessoas asiáticas são ótimas em matemática. Mas e se eu te dissesse que isso tem mais a ver com arroz do que com genética?

Os agricultores asiáticos trabalhavam 3000 horas por ano versus as 1200 horas de um europeu médio

Durante séculos, o cultivo de arroz foi o principal pilar econômico e cultural em partes da Ásia, especialmente na China. Diferente de outros cultivos, plantar arroz exige atenção constante o ano todo: a quantidade certa de solo sobre a semente, o nivelamento perfeito do terreno e o controle preciso da irrigação. Sistemas complexos de alagamento e drenagem precisavam ser ajustados regularmente, tornando o cultivo um processo incrivelmente meticuloso e trabalhoso. Então o trabalho duro está ali, eles estão fazendo todos os dias

Um Arrozal

Os agricultores asiáticos trabalhavam, em média, 3.000 horas por ano, enquanto os europeus, 1.200. O cultivo de arroz era meticuloso e exigia esforço constante — desistir não era uma opção, ou ninguém comeria. Essa cultura de esforço intenso, precisão e foco no longo prazo foi passada de geração em geração, criando um legado que persiste até hoje.

E essa persistência e foco em resolver questões difíceis faz com que essa galera não desista fácil, e persista mesmo quando tudo parece dar errado.

E é por isso que eles são melhores em matemática, porque é algo que exige resiliência, esforço, você não pode desistir porque está com um problema difícil. Essas coisas precisam de tempo, esforço. É essa característica que o arroz proporcionou para essa cultura: a persistência.

Enquanto na maioria do mundo ocidental as crianças e adolescentes tendem a abandonar uma tarefa difícil após 5 minutos em média sem conseguir progresso, as crianças orientais tendem a se esforçar por pelo menos 30 minutos, seis vezes mais. E essa persistência e foco em resolver questões difíceis faz com que essa galera não desista fácil, e persista mesmo quando tudo parece dar errado.

Isso não tem nada a ver com talento, mas sim com uma herança cultural que é passada se você nasceu em um determinado local, e apenas ali. Nesse caso é uma característica positiva, mas e se essa herança fosse o maior problema da sua vida?

O preconceito como oportunidade

Uma outra história contada no livro é como o preconceito contra estrangeiros acabou por transformar esses estrangeiros em advogados de sucesso. E como coisas completamente fora do seu controle, como sua herança racial, podem ser decisivas para sua história.

Se você fosse filho de imigrantes do Leste Europeu você sofreria preconceito

Na década de 1940, o mercado jurídico nos EUA era dominado por grandes escritórios tradicionais, que recrutavam apenas advogados de famílias protestantes ricas, formados em universidades de prestígio como Harvard ou Yale. Filhos de imigrantes do Leste Europeu, em sua maioria judeus, enfrentavam preconceito por não serem tão ricos e, mesmo com boas formações, eram excluídos desses escritórios.

Sem acesso às áreas tradicionais, esses advogados se especializaram em campos menos prestigiados na época, como litígios corporativos e fusões e aquisições — áreas vistas como “sujas” e evitadas pelos grandes escritórios. Para eles, essas práticas eram as únicas oportunidades disponíveis, mas também o início de algo muito maior.

Sorte é estar preparado quando a hora chegar

Porém, na década de 1970, o mercado mudou completamente. Fusões e aquisições se tornaram extremamente lucrativas, e, de repente, o mercado jurídico precisava de especialistas. Os melhores? Justamente os advogados judeus, que tinham mais de uma década de experiência nessas áreas negligenciadas.

Essa exclusão inicial, fora do controle deles, os forçou a se especializar em um campo que mais tarde se tornou central no direito corporativo. Sem essa barreira, talvez tivessem seguido caminhos convencionais e nunca se destacado como líderes. Preconceito nunca é algo positivo, mas essa história mostra como situações adversas podem, inesperadamente, abrir portas para novas oportunidades.

E isso não tem NADA A VER com talento

Se a gente fizer a transposição dessa mesma ideia para os dias de hoje, tirando a parte de ser algo "sujo", os antigos engenheiros de Machine Learning e IA que antes eram considerados como áreas "descartáveis" ou "de pouca importância" agora se tornaram indispensáveis para uma geração que depende cada vez mais deles.

Do mesmo jeito que essas histórias mostram como coisas aparentemente sem importância podem virar oportunidades incríveis, minha trajetória também teve um pouco disso.

A Minha História

Para finalizar essa edição, eu quero contar um pouco do que eu acho que minha história tem a ver com isso. E eu acho que é até um pouco parecida com a história de outros como Bill Gates (só um tiquinho menor).

Desde pequeno eu tive contato constante com hardware, software

Nasci em 1995 e tive muita sorte de crescer em um ambiente curioso e cheio de experimentação, graças aos meus pais, especialmente meu pai. Ele tinha uma locadora de VHS e usava um computador para fazer as planilhas, o que me deu contato constante com tecnologia desde pequeno.

Meu pai era super autodidata e consertava tudo sozinho — lâmpadas, cabos, chuveiros — e eu estava sempre por perto, absorvendo tudo. Com o tempo, essa curiosidade virou aprendizado. Aos 6 anos, eu já desmontava e montava computadores (às vezes pra limpar as peças da locadora) e sabia identificar resistores, transistores e capacitores — mesmo sem entender exatamente pra que serviam. Esse contato precoce com hardware e software foi uma vantagem enorme que pouca gente teve.

Com 6 anos eu conseguia montar e desmontar computadores

Nas décadas de 2000, no boom da Internet e dos computadores, eu já estava mexendo com máquinas desde cedo, mas ainda era novo pra conseguir um emprego. Quando entrei na escola técnica, já dominava boa parte do que era ensinado, o que facilitou muito minha vida na hora de buscar trabalho.

Um dia, em um evento que, digamos, não era exatamente popular com a galera descolada, me ofereceram uma bolsa em uma escola de design — algo que eu sempre quis aprender. Decidi começar o curso, e foi aí que rolou a primeira coincidência. Lá, conheci alguém que me conectou ao meu primeiro emprego de verdade, onde fiquei por 5 anos, mesmo sem ter faculdade ou formação formal na área. Eu nunca fiz um estágio.

Nos 3 anos seguintes eu acumulei experiências que poucos na minha faculdade possuíam

Quando entrei na faculdade, já trabalhava como desenvolvedor há mais de 2 anos nessa consultoria, o lugar perfeito pra aprender, já que eu lidava com diferentes clientes quase toda semana. Nos 3 anos seguintes, acumulei mais experiências do que em anos na área, algo que poucos colegas tinham, porque enquanto eles só estudavam, eu fazia os dois – ao custo da minha saúde, infelizmente.

Quando me tornei desenvolvedor sênior, eu tinha 24 anos, e tinha 6 anos de experiência. Eu já palestrava e compartilhava o que sabia — em parte pra não esquecer — isso me conectou com muitas pessoas e abriu ainda mais portas.

Não me considero um programador excepcional, nem extremamente talentoso. Eu só estava no lugar certo, na hora certa, com as habilidades certas para o momento. Uma mistura de trabalho duro, sorte e contexto. Novamente, nunca é só talento.

A pergunta final que eu deixo pra você é o seguinte:

Como pode aproveitar as oportunidades ao seu redor para transformar seu contexto em sucesso?